Embora a tecnologia faça parte da vida moderna, qual será a utilidade e o lugar que os computadores e a internet devem ter na vida das crianças?
Será que os jogos eletrônicos ou PCs games que estimulam a resposta instintiva, não reflexiva e imediata, oferecem benefícios educativos ou didáticos para as crianças na primeira infância?
Vamos olhar para o desenvolvimento infantil de 0 a 6 anos e avaliar juntos qual o lugar e a necessidade do uso da tecnologia na primeira infância.
Nos três primeiros anos de vida
O primeiro ano de vida é marcado, principalmente, pelas diversas fases do desenvolvimento motor. O bebê irá tomar posse do próprio corpo, descobrindo possibilidades e desenvolvendo as suas habilidades motoras.
O bebê vive, primeiramente, em um mundo de sensações e propriocepções que gradativamente vai dando lugar a percepção do ambiente e do outro.
O ser humano é um ser social que só terá o seu desenvolvimento sadio se este for permeado pelo vínculo, isto é, pelo relacionamento humano afetuoso.
O segundo ano de vida é marcado principalmente pelo desenvolvimento da fala, a criança já entende a fala do adulto e pouco a pouco passa a falar palavras e frases curtas desenvolvendo gradativamente a comunicação através da palavra. No segundo ano de vida a criança que aprendeu a andar irá aprender a correr, a saltar e escalar, desenvolvendo equilíbrio e explorando o espaço físico.
No terceiro ano de vida a criança começa a estruturar melhor as suas frases, suas brincadeiras se tornam mais complexas e ela passa a buscar mais ativamente a interação com outras crianças. É através da brincadeira iniciada pela própria criança e da liberdade de movimento que a criança conhece o próprio corpo, o meio ambiente e desenvolve a capacidade de se relacionar socialmente. Piaget afirma que a exploração e a ação sobre o mundo externo são uma forma de inteligência. A assimilação sensório-motora conduz a uma certa lógica que organiza o mundo real, estruturando categorias de ações que embasam as futuras operações do pensamento.
Logo, as relações e as experiências diretas que acontecem através dos cuidados diários e do livre brincar nos primeiros anos de vida, proporcionam a base necessária para o desenvolvimento da inteligência.
A cultura atual e o computador
O computador, enquanto ferramenta de trabalho, informação, pesquisa e comunicação tornou-se indispensável para a nossa cultura. Tornou-se tão necessário e imprescindível que hoje existe um novo analfabetismo, o analfabetismo digital. A geração que entrou em contato com o computador na década de 90, já adulta, e teve dificuldades para se adaptar a esta nova linguagem, muitas vezes teme que seus filhos cresçam sem se familiarizar com esta ferramenta. Portanto, se admira e acha incrível que as crianças consigam aprender com tanta rapidez como utilizar estes meios. No entanto, é importante lembrar que hoje é muito mais fácil navegar na internet, utilizar um computador ou celular do que já foi no passado, a sua utilização foi muito simplificada, sendo autoexplicativa, o que dispensa a pressa na aquisição destas habilidades.
A criança precisa sentir, experimentar e vivenciar concretamente o seu próprio corpo, o espaço físico, a natureza e as relações sociais para poder se constituir enquanto sujeito. Até os três anos de idade a tecnologia, os jogos eletrônicos e o computador não trazem qualquer benefício para as crianças, porque apresentam uma realidade virtual oferecendo um aprendizado muito restrito que não contribui para desenvolver a capacidade de agir no mundo, a capacidade de realizações concretas. Os jogos eletrônicos podem ser limitadores ou até mesmo prejudiciais quando ocupam o tempo e o espaço que deveria ser destinado ao desenvolvimento motor, emocional e cognitivo. E ainda diminuem a capacidade de concentração pelo excesso de estímulos visuais que oferecem.
Dos 3 aos 6 anos de idade
A criança desenvolve a sua fantasia e imaginação por meio de brincadeiras que envolvem movimento, ação e interação. Este brincar que tem origem na iniciativa própria da criança é um brincar muito rico que proporciona o desenvolvimento de capacidades cognitivas, da inteligência, preparando a criança para o aprendizado escolar do ensino fundamental e médio através das experiências vividas.
O entretenimento virtual com jogos eletrônicos e PCs games se mostram limitados oferecendo dificuldades significativas para o desenvolvimento sadio, são elas:
- Diminuição da participação em atividades sociais
- Dificuldades nas relações sociais
- Afastamento das crianças e jovens de seus pais
- Estímulo e dessensibilização à violência
- Valores éticos questionáveis vinculados a estes produtos
- Dificuldades de aprendizagem escolar
- Resultado pela mudança no tipo de atenção, não adequado às aulas tradicionais
E também riscos à saúde:
- Problemas visuais
- Problemas auditivos
- Lesões por esforço repetitivo (LER)
- Causam vício (da mesma forma que os jogos de azar)
- Transtorno do jogo pela internet
- Manual Diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5
É bem provável que os jogos eletrônicos se transformem, em um futuro próximo, em excelentes ferramentas de apoio educacional para o ensino fundamental e médio. No entanto, para a educação infantil de 0 a 6 anos o que promove o desenvolvimento infantil sadio são vínculos fortes e significativos e o brincar livre.
Como tudo o que é proibido desperta ainda mais a curiosidade e o interesse, não devemos proibir o uso do computador, mas na primeira infância o seu uso deve ser bastante limitado e controlado para evitar excessos e prejuízos.
Bibliografia
FRIEDMAN, A. e col. Caminhos para uma aliança pela infância. São Paulo: Aliança pela Infância, 2003.
GIMAEL, Patrícia Couto Infância Vivenciada – São Paulo – Editora Paulinas -2013
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM – 5. Porto alegre: Artmed, 2014.